quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nós que aqui estamos, por vós esperamos...


Esta frase foi colocada na entrada de um cemitério de Paraibuna, no interior de São Paulo e acabou parando nas telas do cinema como título de um documentário sobre o século XX dirigido por Marcelo Masagão. Não poderia haver melhor frase para estar na entrada de um cemitério. De fato, esta é a semana em que as pessoas, de forma geral, mais se dedicam a lembrar seus “entes queridos”. Esta preocupação com aqueles que “já se foram” reflete uma empatia curiosa.
Há algum tempo procuro observar e refletir sobre o espaço cemiterial, em que o “02 de novembro” se apresenta como a data em que os cemitérios estão mais bonitos, floridos e porque não, VIVOS. Esta data, oficializada pela Igreja no século XII, é uma prática muito mais antiga que o próprio cristianismo. Se a entendermos dentro do contexto do culto aos mortos, poderíamos regressar ao homem primitivo, pois o respeito e o zelo àquele que desfaleceu é visível em todas as culturas humanas e nas mais diversas épocas. E qual a explicação para isto?
A única que até hoje encontrei é o “Assombro diante da Morte”. A morte nos intriga, nos questiona, nos apresenta a nossa própria limitação. A morte põe em cheque tudo aquilo que construímos e que sonhamos construir. A morte depõe contra toda nossa corporeidade e contra todo materialismo humano. A morte é a dúvida sobre a qual construímos todo nosso castelo de certezas. Eis o dia em que tudo isto deve ser lembrado, refletido e comemorado. Sim, o dia de finados deve ser comemorado, pois é o dia em que a humanidade, ou pelo menos os cristãos ocidentais, pensam um pouquinho no seu trágico e natural destino.
Hoje, eu aqui no Cemitério de Santa Cruz, um dos mais antigos do planalto norte, penso na frase que deveria estar na entrada de todas as necrópoles: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos!” Eis uma Verdade...