sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Os Limites da Educação


O famoso e controverso projeto de Lei 7672 relatado pela deputada Teresa Surita de Roraima, batizado de lei da “palmada”, já gerou e vai gerar muito debate em torno da forma correta de como educar um filho. E para não perder o seu tempo com esta leitura, vou lançar uma premissa fundamental na qual nortearei o restante do meu texto, se você não concordar pode parar por ali e ocupar o seu tempo com outra coisa.
“Não existe receituário de como educar um ser humano”
Bom, se você está lendo aqui é porque concordou ou porque está curioso com o que eu vou falar. Tenho dois filhos, um completou um ano e o outro irá completar três. Não posso, absolutamente, garantir que eles serão pessoas educadas, equilibradas e felizes. E olha que a mãe deles é formada em direito e eu em filosofia. Ambos dedicamos a maior parte do tempo aos dois. Tanto eu, como minha esposa, tivemos pais rigorosos (rigor a meu ver é elogio) que nos garantiram boa educação. Tanto eu quanto ela, desde muito cedo, tínhamos tarefas domésticas a serem cumpridas. Tivemos também que nos explicar muitas vezes quando não tirávamos “10” na maioria das médias do boletim escolar, vejamos bem, nós nos explicávamos e não nossos professores. Aquie, então a minha segunda premissa: a mais viva experiência de educação para com nossos filhos vem de nossos pais. Seus erros e acertos nos mostram paradigmas da educação, mas não um receituário.
É claro para mim que muitos psicólogos, pedagogos, professores e pediatras arriscam seus diplomas ao colocarem suas opiniões sobre a educação (aqui no sentido “criação dos filhos”) como se fossem dados científicos. Gostaria de conhecer um só professor ou psicólogo que ousasse afirmar que seu filho é perfeito do ponto de vista comportamental. Até porque nosso debate ficaria em torno do que é perfeição comportamental. Sempre quando ouço alguém dizendo o “como” devo educar meu filho eu faço minhas análises interiores (não sou dado a discussões fugazes) sobre como é ou são os filhos desta pessoa.
Estranho bastante, portanto, a iniciativa do Estado de intervir desta maneira na educação dos filhos. Veja não estou de forma alguma defendendo a violência doméstica, que claro deve ser combatida pelo Estado. Mas me pergunto: qual a forma correta de educar o meu filho? Existe limite sem punições? Como é isto? Senhora deputada relatora Teresa Surita, como a senhora educou seus filhos? A senhora tem a receita para educar os meus?
Seria bem mais fácil se fossemos determinados pelo ambiente, aí a educação seria mero adestramento. Mas não é. Somos seres em construção, construídos e construtores de nós mesmo. Em maior ou menor grau a criança tem desejos. Os desejos são idealizações de atos futuros. Nem sempre os desejos são convenientes, corretos e saudáveis. E neste sentido é necessário o limite. E é meu papel de pai (mãe) dar este limite. Não devo terceirizá-lo à televisão, à babá, a escola ou ao Estado. Não são estas pessoas ou instituições que possuem esta empatia plena com meus filhos. Se uma das minhas crianças sofre, eles até podem representar alguma piedade, mas sou eu (pai ou mãe) que sofrerá junto com ele. A responsabilidade familiar é “primeira”, intransferível e irrevogável.
Que esta lei não sirva para retirar dos pais o ônus da verdadeira educação, que os pais não se sintam acuados a dizer não aos seus filhos. Que seu não seja não e seu sim seja sim. Não existe disciplina sem esta clareza, não existe aprendizado sem disciplina, não existe educação sem aprendizado.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nós que aqui estamos, por vós esperamos...


Esta frase foi colocada na entrada de um cemitério de Paraibuna, no interior de São Paulo e acabou parando nas telas do cinema como título de um documentário sobre o século XX dirigido por Marcelo Masagão. Não poderia haver melhor frase para estar na entrada de um cemitério. De fato, esta é a semana em que as pessoas, de forma geral, mais se dedicam a lembrar seus “entes queridos”. Esta preocupação com aqueles que “já se foram” reflete uma empatia curiosa.
Há algum tempo procuro observar e refletir sobre o espaço cemiterial, em que o “02 de novembro” se apresenta como a data em que os cemitérios estão mais bonitos, floridos e porque não, VIVOS. Esta data, oficializada pela Igreja no século XII, é uma prática muito mais antiga que o próprio cristianismo. Se a entendermos dentro do contexto do culto aos mortos, poderíamos regressar ao homem primitivo, pois o respeito e o zelo àquele que desfaleceu é visível em todas as culturas humanas e nas mais diversas épocas. E qual a explicação para isto?
A única que até hoje encontrei é o “Assombro diante da Morte”. A morte nos intriga, nos questiona, nos apresenta a nossa própria limitação. A morte põe em cheque tudo aquilo que construímos e que sonhamos construir. A morte depõe contra toda nossa corporeidade e contra todo materialismo humano. A morte é a dúvida sobre a qual construímos todo nosso castelo de certezas. Eis o dia em que tudo isto deve ser lembrado, refletido e comemorado. Sim, o dia de finados deve ser comemorado, pois é o dia em que a humanidade, ou pelo menos os cristãos ocidentais, pensam um pouquinho no seu trágico e natural destino.
Hoje, eu aqui no Cemitério de Santa Cruz, um dos mais antigos do planalto norte, penso na frase que deveria estar na entrada de todas as necrópoles: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos!” Eis uma Verdade...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Galera, recebi este do meu amigo Evandro, muito bom!

NEM JESUS AGUENTARIA SER PROFESSOR...
Muito bem bolado



O Sermão da montanha (*versão para educadores*)

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado
sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se
aproximassem.

Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da
Boa Nova a todos os homens.

Tomando a palavra, disse-lhes:
- Em verdade, em verdade vos digo:
- Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
- Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
- Felizes os misericordiosos, porque eles...?

Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:
- É pra copiar?

Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?

João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?

Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado
nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula?
- Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica?
- Quais são os objetivos gerais e específicos?
- Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades
integradoras com outras disciplinas?
- E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais?
- Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e
reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos
para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade.
- Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do
nosso projeto.
- E vê lá se não vai reprovar alguém!

E, foi nesse momento que Jesus disse:
"Senhor, por que me abandonastes..."

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A crise europeia não é econômica, é ÉTICA


Muito está se falando da crise na UE. Hoje inclusive, quebrou mais um banco (esta frase pode ser lida daqui a 20 anos e será atual). Inusitadamente a crise “começou” na Grécia. Considerado um dos países mais pobres da UE, a Grécia é o berço da Filosofia e da Política Ocidental. Foram também os gregos clássicos que mais refletiram sobre a conduta humana, o “ethos”, dando origem a imortal disciplina filosófica: a ética.
Parece estranho que um país tão importante culturalmente seja avaliado por algumas agências econômicas como um país de risco. Para nós brasileiros (estou arriscando-me ao afirmar isto) a Grécia lembra cruzeiro, história e incêndio florestal em determinadas épocas do ano. Por isto parece estranho, que um país cuja indústria e comércio nos são desconhecidas (com exceção ao turismo, claro) seja o pivô de um Tsunami econômico, deverás mundial (que o Lula não leia o blog).
Mas é claro, mesmo com todo legado cultural que a Grécia nos deu, de nada adianta a sua cultura sem uma economia sólida. O mundo globalizado reconhece apenas cifrões, não reconhece cultura e muito menos direitos. A sociedade pós-industrial e de consumo em que vivemos, desconhece o que é jus naturale. E a Europa, que por séculos construiu o edifício do Direito Natural, fê-lo desabar no século XIX e XX com o imperialismo e duas guerras. Não podemos afirmar que em algum momento houve de fato respeito aos direitos naturais da humanidade. No entanto, o que vemos hoje é a velha Europa, mais uma vez abrindo mão da humanidade em nome de um sistema econômico carcomido por sua própria ferrugem.
O continente que inventou o capitalismo e também o socialismo se encontra novamente com o passado inglório, à beira de colapsos sociais, marcado pela xenofobia e endividado com o mundo. Durante mais de três séculos emprestamos (involuntariamente) ouro, prata e todo tipo de riquezas minerais e vegetais, e mesmo assim a Europa vive o risco de colapsar a economia mundial. Atormentados com uma cegueira que somente as joias podem gerar, eles estão inclinados a entregar os dedos e ficar com os anéis. Os governos pressionados por mecanismos financeiros internacionais a quem desde o tratado de Breton Woods são subservientes, pretendem abrir mão das conquistas da Democracia Social em prol da ajuda a alguns bancos. Ou seja, a crise europeia é uma crise de valores. Não valores financeiros, mas valores morais. A Europa que sempre se intrigou com o individualismo estadunidense, que se rendeu algumas vezes a embriaguez do nacionalismo, hoje se percebe desamparada, pedindo ajuda para os emergentes. É análoga a uma velha viúva que mesmo explorando seus filhos durante a vida toda se encontra pobre na velhice e lhes pede socorro.
Enquanto os governantes procuram medidas impopulares para sanar as contas, aumentando impostos e reduzindo benefícios, diminuindo ainda mais os compromisso de um Estado de bem estar social, aumentam a dívida de seus Estados ajudando bancos e investidores que nada mais são que uma elite de agiotas, usurários, vendedores de tempo, que não geram nada, não trabalham e sequer se comprometem com quem negociam. Faltam princípios morais aos nossos governantes!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Malthus tinha razão?

Não, não quero ressuscitar a tão fracassada teoria malthusiana. Mesmo porque meus professores socialistas detentores de toda racionalidade científica já espezinharam o suficiente em cima do finado Malthus. Porém me assusta o relatório da ONU que prevê inflação no preço dos alimentos. A matemática para isto é fácil: o aumento considerável de catástrofes ambientais em regiões produtoras de alimentos, o aumento do consumo de alimentos em países emergentes e a expansão demográfica. É tão simples que parece uma explicação superficial, mas não é.


Voltemos ao Malthus: quando ele publicou “Ensaios sobre o princípio da população” em 1798 a Inglaterra vivia sua primeira explosão demográfica pós-revolução industrial. Neste contexto houve uma grande inflação de alimentos que levou Malthus a entender que a produção agrícola crescia em proporções aritméticas enquanto a população humana se reproduzia em escala geométrica. Em fins do século XVIII a agricultura era rudimentar, a produção era baseada puramente em mão de obra, boa parte escrava. Gêneros alimentícios não eram lucrativos com raras exceções, como o açúcar (se é que açúcar em si é alimento). O regime alimentar também era outro, carne, por exemplo, era algo raro na maioria das mesas. Muitas terras da Inglaterra antes destinadas à lavoura comunal se tornaram pastagens para ovelhas produtoras de lã. O encarecimento dos alimentos fez com que o pastor Malthus defendesse uma política de controle populacional estimando a falta de alimentos. A expansão colonial do século XIX fez com que a Inglaterra obtivesse o controle de grande parte da Ásia e África e salvou os ingleses de uma grave crise alimentar, veja bem, salvou os ingleses, já que o continente africano ainda é o continente da fome no mundo.

Se a expansão colonial salvou a Europa da fome no século XIX o mesmo não se pode afirmar sobre o século XX. Violentada por duas guerras mundiais, a população europeia conheceu ciclos de fome e miséria. Reerguendo-se dos escombros, os Estados europeus desenvolveram políticas agrícolas planificadas, mesmo os mais liberais, como os ingleses. Este controle estatal do setor agrícola através de subsídios, incentivos econômicos e tecnológicos deu origem a “Revolução Verde” da década de 60. Esta revolução conheceu a profunda mecanização da agricultura, a utilização de defensivos e fertilizantes sintéticos, e o aprimoramento de sementes com o auxílio de genética. A agricultura antes entendida como vocação de países coloniais passou a ser foco da economia internacional, surgiram as expressões “agronegócio”, “mercado de futuros”, e o que antes era só alimento hoje é “commodities”. Surgem multinacionais do “agribusiness” especializadas não só em negociar e cotar internacionalmente os produtos agrícolas – afinal isto acontece desde o período colonial – mas também em melhorar a produção e até mesmo produzir em diversos países nos moldes das corporações industriais.

Toda esta revolução agrícola do século passado barateou os alimentos e trouxe uma profunda revolução alimentar para a população dos países ricos e emergentes, mas não acabou com a fome. Se falarmos de Brasil as alterações alimentares foram profundas. Se você perguntar a quem tem mais de sessenta anos como era a alimentação quando ele era criança certamente você ouvirá coisas do tipo: “Frango era comida de domingo”, “carne bovina se comia só em festa de Igreja ou casamento”, “dia de semana comíamos pirão com linguiça” e por aí vai. O acesso á um regime alimentar mais proteico aconteceu graças ao aumento da produção de gado e mesmo ao melhoramento genético dos rebanhos. A expansão dos “fast-foods” é outro emblema da revolução alimentar. Comida barata e abundante no Brasil não é somente uma conquista da estabilidade econômica e de programas de governo, é também uma profunda transformação no modo de produção agrícola. Resumindo: o melhoramento tecnológico na agricultura gerou uma “mais-valia” que fugiu da mão dos produtores para a mão dos consumidores. Alimento mais barato gerou um maior consumo e também um maior desperdício, sem falar nas epidemias de obesidade em países como os EUA e o Brasil.

Quando a ONU alerta para um inflação no preço dos alimentos, ela o faz baseada nas estimativas dos estoques de grãos dos países produtores. Em suma, o estoque de milho e soja estão muito baixos e isto fara estas duas “commodities” possivelmente subirem muito de preço este ano, consequentemente a carne estará mais cara e por fim o custo de vida também. Se combinarmos isto tudo a uma alta no preço do petróleo, teremos ainda um aumento no custo de produção o que significa uma diluição dos lucros do produtor rural. Concordo com os economistas que afirmam que o Brasil tem tudo para se sair muito bem desta situação, mas confesso que sou bastante cético à realização disto. Infelizmente a produção agrícola brasileira não é organizada como deveria e poderia ser. O Estado brasileiro não só é desorganizado com relação a agricultura brasileira como parece se beneficiar desta desorganização. Os pequenos e médios produtores não são preparados para encarar o livre mercado e a quase uma década plantar soja, milho, feijão, arroz é sempre um investimento de alto risco. A dívida agrícola segue em alta, tanto para custeio quanto para renegociação. O governo promete emprestar 100 bilhões de reais, um aumento de 8% em relação a safra passada. Enquanto o governo acredita que auxiliar o setor agrícola é simplesmente emprestar dinheiro, a má qualidade técnica empregada na produção e transporte consome grande parte do valor de nosso produto. Se não houver uma reorganização agrícola no país com incentivos para preservação ambiental e uso avançado de tecnologias de produção e transporte, o setor agrícola brasileiro ficará refém da especulação internacional e o que veremos não será apenas uma oportunidade de negócio passando, mas sim, um dos maiores produtores agrícolas do mundo vítima de uma onda inflacionária na produção de alimentos. Todos perderão e Malthus terá razão!