terça-feira, 4 de outubro de 2011

A crise europeia não é econômica, é ÉTICA


Muito está se falando da crise na UE. Hoje inclusive, quebrou mais um banco (esta frase pode ser lida daqui a 20 anos e será atual). Inusitadamente a crise “começou” na Grécia. Considerado um dos países mais pobres da UE, a Grécia é o berço da Filosofia e da Política Ocidental. Foram também os gregos clássicos que mais refletiram sobre a conduta humana, o “ethos”, dando origem a imortal disciplina filosófica: a ética.
Parece estranho que um país tão importante culturalmente seja avaliado por algumas agências econômicas como um país de risco. Para nós brasileiros (estou arriscando-me ao afirmar isto) a Grécia lembra cruzeiro, história e incêndio florestal em determinadas épocas do ano. Por isto parece estranho, que um país cuja indústria e comércio nos são desconhecidas (com exceção ao turismo, claro) seja o pivô de um Tsunami econômico, deverás mundial (que o Lula não leia o blog).
Mas é claro, mesmo com todo legado cultural que a Grécia nos deu, de nada adianta a sua cultura sem uma economia sólida. O mundo globalizado reconhece apenas cifrões, não reconhece cultura e muito menos direitos. A sociedade pós-industrial e de consumo em que vivemos, desconhece o que é jus naturale. E a Europa, que por séculos construiu o edifício do Direito Natural, fê-lo desabar no século XIX e XX com o imperialismo e duas guerras. Não podemos afirmar que em algum momento houve de fato respeito aos direitos naturais da humanidade. No entanto, o que vemos hoje é a velha Europa, mais uma vez abrindo mão da humanidade em nome de um sistema econômico carcomido por sua própria ferrugem.
O continente que inventou o capitalismo e também o socialismo se encontra novamente com o passado inglório, à beira de colapsos sociais, marcado pela xenofobia e endividado com o mundo. Durante mais de três séculos emprestamos (involuntariamente) ouro, prata e todo tipo de riquezas minerais e vegetais, e mesmo assim a Europa vive o risco de colapsar a economia mundial. Atormentados com uma cegueira que somente as joias podem gerar, eles estão inclinados a entregar os dedos e ficar com os anéis. Os governos pressionados por mecanismos financeiros internacionais a quem desde o tratado de Breton Woods são subservientes, pretendem abrir mão das conquistas da Democracia Social em prol da ajuda a alguns bancos. Ou seja, a crise europeia é uma crise de valores. Não valores financeiros, mas valores morais. A Europa que sempre se intrigou com o individualismo estadunidense, que se rendeu algumas vezes a embriaguez do nacionalismo, hoje se percebe desamparada, pedindo ajuda para os emergentes. É análoga a uma velha viúva que mesmo explorando seus filhos durante a vida toda se encontra pobre na velhice e lhes pede socorro.
Enquanto os governantes procuram medidas impopulares para sanar as contas, aumentando impostos e reduzindo benefícios, diminuindo ainda mais os compromisso de um Estado de bem estar social, aumentam a dívida de seus Estados ajudando bancos e investidores que nada mais são que uma elite de agiotas, usurários, vendedores de tempo, que não geram nada, não trabalham e sequer se comprometem com quem negociam. Faltam princípios morais aos nossos governantes!

Nenhum comentário:

Postar um comentário