segunda-feira, 22 de outubro de 2012



Ensaio sobre a Liberdade

Impossível dormir com a cabeça à mil...
O travesseiro tem me atormentado muito e não tem sido um bom companheiro. Ele tem sido inclusive um ícone daquilo que sinto, meu travesseiro é uma barreira, um limite, uma verdadeira muralha! Quando coloco a cabeça no travesseiro me deparo como sou sóbrio ao dormir e como isto me atrapalha. Sim, umas taças de vinho ou mesmo umas latinhas de cerveja me fariam esquecer as muralhas da vida. Porém a sobriedade atual me faz enormes perguntas sobre o sentido último de minha existência, e ao mesmo tempo me coloca em um vale cercado de altas montanhas intransponíveis, ou pelo menos aparentemente intransponíveis. Fico desejoso de respostas, mas por todo lado só vejo perguntas.
Hoje me deparo com mais uma destas barreiras que teimam em aparecer na minha vida. Nada demais, eu penso, pois já venci coisas muito piores, mas a fadiga de lutar contra a mesmice não é algo desafiador. Bem, antes de continuar a ler este texto vale uma ressalva: Não é um texto científico, não pretendo responder a nada, não serei impessoal ao escrever e dane-se qualquer crítica a ele, não estou escrevendo para que alguém leia e me elogie ou me ataque, estou escrevendo por que não consigo dormir.  Continuando...
Quando falo de barreiras, me refiro aos desafios, aos impropérios que são naturais (acredito que sejam) em nossas vidas. Pois bem, nem sempre tais eventos, fenômenos ou mesmo dilemas aparecem quando estamos preparados, aliás, nunca estamos preparados. Sempre o que carregamos para enfrentar os obstáculos da vida são as ferramentas que serviam para romper o obstáculo anterior. Acreditamos como diria Hume, que os eventos se repetem e que existe uma suposta causalidade entre eles, mas tudo isso é pura vaidade da racionalidade humana. Eis aí algo que me incomoda: a vaidade em acreditar que estamos preparados para romper ou superar os empecilhos que a vida nos impõe só por que superamos, rompemos ou contornamos os anteriores.
No entanto, há sempre algo de novo e, portanto de desafiador naquilo que hora enfrento. E aí é que reside o aprendizado e a liberdade. Aprendizado que é fim em si, já que não o utilizarei no desafio futuro – disso já sou consciente. Liberdade, pois em todos os antagonismos da vida, não há nada mais dialético a uma barreira do que ela, a Liberdade. Proponho-me a falar desta última, simplesmente porque eu quero falar dela, é meu livre ato de escrever.
Não vou discutir os mais diversos e históricos conceitos de liberdade, isto não é incumbência de pós-modernos enrustidos. A liberdade para nós é um fato, um dado simbólico, uma marca de nosso tempo. Somos condenados à ela, diria Sartre, e não consigo escolher não ser livre. Já que sou livre para escrever, deixe-me dizer então que acredito na existência de Adão. Oh, se assustou intruso leitor, avisei que não precisava ler! Sim, Adão é uma piada de Deus. Deus em sua onisciência sabia tudo o que ia acontecer, sabia em que grau chegaria a ciência humana e pensou, tenho que tirar uma onda deles. Vou inventar uma estória para eles se divertirem o “resto da eternidade”. Por muito tempo a estória não teve graça, ao pé da letra ela é até bonita, mas não engraçada. Quando começamos a pensar que o homem não foi feito de barro e que a criação demorou um pouco mais de sete dias é que a estória, deixou de ser história e ficou boa, mas a humanidade trouxa ainda não entendeu a piada. Pois bem, Adão não foi o primeiro humano, foi o primeiro homem livre. E foi livre, pois queria ser igual a Deus, ele comeu da árvore da ciência. E para isso ele decidiu, mesmo que aconselhado por Eva, ele decidiu ser igual à Deus. Ué, não achou graça nisso?
O nosso pecado é também a única coisa que faz sentido em nossa existência, a liberdade. Eis a condenação, sermos livres. E com tudo isso Sartre ainda era ateu. Sorte dele que via a existência como uma náusea. Se eu for livre posso fazer tudo o que quero, eis minha grande barreira. Volto ao começo deste texto, quando falava dos obstáculos. A mesmice é fazer as mesmas escolhas. Eu escolher viver diariamente e isso já uma mesmice. Tudo aquilo que me inquieta, que me arranca da cama para escrever um texto a uma hora da madrugada acontece por que sou livre. As barreiras que se sobrepõe a minha frente, as perguntas que me atormentam, tudo isso é o meu exercício de liberdade, é para provar que nada pode me acorrentar e que mesmo na rotina diária, pesada, fatigante mostra também o quanto sou livre e dono de mim mesmo.
Boa noite.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Apologia do Filósofo


Apologia do Filósofo

Sei que serei redundante àquele que tem um pouco de leitura clássica. Mas era inevitável. São passados da meia noite e senti aquela inevitável vontade de escrever. Algumas frases soltas me povoam a mente, e mesmo depois de um exaustivo dia de aulas, estou aqui, sentado naquele que deveria ser o lócus de meu repouso noturno.
Peguei-me a refletir sobre o papel do filósofo. Não me refiro ao meu papel enquanto professor de filosofia, isto é demasiado fácil de responder. Refiro-me ao papel de iniciado nos conhecimentos filosóficos e que aos poucos toma conhecimento de ser um amante da sabedoria. Devo avisar aos leigos de forma geral, que ser filósofo é a priori ser humilde, uma vez que amar a sabedoria não significa ser sábio. Mas vamos adiante. Fiquei pensando de fato o quanto sou chato. Sim, o quanto sou um incômodo onde estou. Sei que por vezes sou diplomático ao ser chato, às vezes sou até grosso. Mas por que sou chato?
Ora, é da natureza do filósofo questionar. A crítica do filósofo não está em encontrar os defeitos das coisas, mas sim entender a natureza das coisas. Desta maneira, a chatice do filósofo está em buscar os fundamentos últimos das coisas, dos seres e de suas ações. Não consigo me conformar com o que vejo. Não estou defendendo o racionalismo, mas não consigo aceitar as coisas como se apresentam, sim, pois elas não se apresentam em essência, e é isto que me incomoda. Quer dizer: não só o fato de não se apresentarem em sua essência, mas o fato de insistirem em ser imperscrutáveis. E o filósofo não se conforma em ficar apenas no aparente, superficial, comum...
A filosofia me tira o sono justamente porque sou inconformado. Como diria meu grande Mestre Márcio Bolda da Silva, a filosofia surge do ASSOMBRO! O filósofo, desde os pré-socráticos, constroem suas elucubrações do espanto para com a realidade. Não posso e nem quero aceitar o COMUM como NORMAL. E se isto não é da natureza do filósofo, então fui marcado com tanta força em meu ser que já não consigo imaginar outra forma de existir. Tenho receio, como todos lá no fundo também têm de serem aceitos pela sociedade e pelos grupos sociais que frequento por essa minha chatice natural. Mas concordo, com aqueles que me detestam, que minha acidez provoca úlceras em mim e naqueles a quem respingo com minhas críticas e até com meus olhares. Peço desculpas, já que outro remédio para isto não tenho.
Agora, nem que esta fosse a última de minhas vontades antes de finalizar esta breve vida, conseguiria deixar de ser crítico. Serei sempre um aliado incômodo ou um opositor feroz. Incômodo, incomodado e incomodante! Um estorvo necessário para mostrar a importância de PENSAR!