quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Apologia do Filósofo


Apologia do Filósofo

Sei que serei redundante àquele que tem um pouco de leitura clássica. Mas era inevitável. São passados da meia noite e senti aquela inevitável vontade de escrever. Algumas frases soltas me povoam a mente, e mesmo depois de um exaustivo dia de aulas, estou aqui, sentado naquele que deveria ser o lócus de meu repouso noturno.
Peguei-me a refletir sobre o papel do filósofo. Não me refiro ao meu papel enquanto professor de filosofia, isto é demasiado fácil de responder. Refiro-me ao papel de iniciado nos conhecimentos filosóficos e que aos poucos toma conhecimento de ser um amante da sabedoria. Devo avisar aos leigos de forma geral, que ser filósofo é a priori ser humilde, uma vez que amar a sabedoria não significa ser sábio. Mas vamos adiante. Fiquei pensando de fato o quanto sou chato. Sim, o quanto sou um incômodo onde estou. Sei que por vezes sou diplomático ao ser chato, às vezes sou até grosso. Mas por que sou chato?
Ora, é da natureza do filósofo questionar. A crítica do filósofo não está em encontrar os defeitos das coisas, mas sim entender a natureza das coisas. Desta maneira, a chatice do filósofo está em buscar os fundamentos últimos das coisas, dos seres e de suas ações. Não consigo me conformar com o que vejo. Não estou defendendo o racionalismo, mas não consigo aceitar as coisas como se apresentam, sim, pois elas não se apresentam em essência, e é isto que me incomoda. Quer dizer: não só o fato de não se apresentarem em sua essência, mas o fato de insistirem em ser imperscrutáveis. E o filósofo não se conforma em ficar apenas no aparente, superficial, comum...
A filosofia me tira o sono justamente porque sou inconformado. Como diria meu grande Mestre Márcio Bolda da Silva, a filosofia surge do ASSOMBRO! O filósofo, desde os pré-socráticos, constroem suas elucubrações do espanto para com a realidade. Não posso e nem quero aceitar o COMUM como NORMAL. E se isto não é da natureza do filósofo, então fui marcado com tanta força em meu ser que já não consigo imaginar outra forma de existir. Tenho receio, como todos lá no fundo também têm de serem aceitos pela sociedade e pelos grupos sociais que frequento por essa minha chatice natural. Mas concordo, com aqueles que me detestam, que minha acidez provoca úlceras em mim e naqueles a quem respingo com minhas críticas e até com meus olhares. Peço desculpas, já que outro remédio para isto não tenho.
Agora, nem que esta fosse a última de minhas vontades antes de finalizar esta breve vida, conseguiria deixar de ser crítico. Serei sempre um aliado incômodo ou um opositor feroz. Incômodo, incomodado e incomodante! Um estorvo necessário para mostrar a importância de PENSAR!

Um comentário:

  1. Meus parabéns pelo texto postado Dú! Espero que as novas postagens sejam publicadas em breve.

    ResponderExcluir