Apologia do Filósofo
Sei que serei redundante àquele que tem um pouco de leitura
clássica. Mas era inevitável. São passados da meia noite e senti aquela
inevitável vontade de escrever. Algumas frases soltas me povoam a mente, e
mesmo depois de um exaustivo dia de aulas, estou aqui, sentado naquele que
deveria ser o lócus de meu repouso
noturno.
Peguei-me a refletir sobre o papel do filósofo. Não me
refiro ao meu papel enquanto professor de filosofia, isto é demasiado fácil de
responder. Refiro-me ao papel de iniciado nos conhecimentos filosóficos e que
aos poucos toma conhecimento de ser um amante da sabedoria. Devo avisar aos
leigos de forma geral, que ser filósofo é a
priori ser humilde, uma vez que amar a sabedoria não significa ser sábio.
Mas vamos adiante. Fiquei pensando de fato o quanto sou chato. Sim, o quanto
sou um incômodo onde estou. Sei que por vezes sou diplomático ao ser chato, às
vezes sou até grosso. Mas por que sou chato?
Ora, é da natureza do filósofo questionar. A crítica do
filósofo não está em encontrar os defeitos das coisas, mas sim entender a
natureza das coisas. Desta maneira, a chatice do filósofo está em buscar os
fundamentos últimos das coisas, dos seres e de suas ações. Não consigo me
conformar com o que vejo. Não estou defendendo o racionalismo, mas não consigo
aceitar as coisas como se apresentam, sim, pois elas não se apresentam em
essência, e é isto que me incomoda. Quer dizer: não só o fato de não se
apresentarem em sua essência, mas o fato de insistirem em ser imperscrutáveis. E
o filósofo não se conforma em ficar apenas no aparente, superficial, comum...
A filosofia me tira o sono justamente porque sou
inconformado. Como diria meu grande Mestre Márcio Bolda da Silva, a filosofia
surge do ASSOMBRO! O filósofo, desde os pré-socráticos, constroem suas
elucubrações do espanto para com a realidade. Não posso e nem quero aceitar o
COMUM como NORMAL. E se isto não é da natureza do filósofo, então fui marcado
com tanta força em meu ser que já não consigo imaginar outra forma de existir. Tenho
receio, como todos lá no fundo também têm de serem aceitos pela sociedade e
pelos grupos sociais que frequento por essa minha chatice natural. Mas
concordo, com aqueles que me detestam, que minha acidez provoca úlceras em mim
e naqueles a quem respingo com minhas críticas e até com meus olhares. Peço
desculpas, já que outro remédio para isto não tenho.
Agora, nem que esta fosse a última de minhas vontades antes
de finalizar esta breve vida, conseguiria deixar de ser crítico. Serei sempre
um aliado incômodo ou um opositor feroz. Incômodo, incomodado e incomodante! Um
estorvo necessário para mostrar a importância de PENSAR!
Meus parabéns pelo texto postado Dú! Espero que as novas postagens sejam publicadas em breve.
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